Lady Gaga: A glorificação da aspirante a freak
Imitou os trejeitos de Madonna, saiu de uma tenda de enfermagem apenas com duas cruzes a taparem-lhe os mamilos, enfim, Lady Gaga mostrou por que é o novo ícone da pop juvenil.
Dezoito mil duzentas e cinquenta almas receberam, num êxtase passível de ser descrito como absoluto, a primeira passagem de Lady Gaga por Portugal, ontem, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. "Portugal" foi, aliás, a palavra que a artista mais repetiu, provocando histeria colectiva a cada menção. Gaga gritou "Portugal" antes das canções, depois das canções e ainda arranjou maneira de incluir referências ao país nas letras. O público, maioritariamente constituído por crianças e adolescentes do sexo feminino, conhecia cada palavra de cada canção - e foi curioso ver mães e filhas pré-púberes a cantar alegremente letras como I'm a bitch, imitando em simultâneo os sugestivos trejeitos dançantes da americana.
Esperava-se que o concerto fosse uma megaprodução cénica, mas longe disso: havia uns néons com dísticos a imitar os diners americanos, houve fogo no piano durante uma balada, um carro cuja capota quando aberta revelava um sintetizador, houve uma espécie de redoma gigante no meio do público, de onde saiu a cantora. Mas o verdadeiro cerne do concerto, para lá das canções, da jaula de néons que trepou, dos dançarinos drag queen, dos milhentos vestidos (um deles sendo uma espécie de vestido de noiva com problemas psiquiátricos) foi a persona Gaga, espécie de padroeira dos freaks - ou pelo menos assim quis parecer.
Disse que não era corajosa, mas os fãs faziam-na ser, incitou a que os presentes esquecessem todos os que os haviam tratado mal e não haviam acreditado neles porque, tal como ela, cada fã é uma estrela (depois agradeceu a Portugal). Em seguida mostrou-se comovida por terem vindo vê-la porque, disse, sabia que os fãs tinham poupado um ano inteiro para comprar o bilhete, a farpela e conseguir transporte para o concerto (sic). Depois agradeceu a Portugal na mais alta oitava que conseguiu atingir.
Pelo meio imitou trejeitos de Madonna, em particular nos vídeos projectados em fundo, saiu de uma tenda de enfermagem apenas com duas cruzes a taparem-lhe os mamilos, debitou canções techno-pop de batida xunga (estilo que é o grosso do alinhamento e que usa para criar um ambiente de discoteca-igreja) a uma velocidade vertiginosa e ainda aceitou prendas dos fãs (a quem agradeceu à volta de um milhar de vezes). Também confessou que no liceu era gozada, mas que nasceu assim. "We love you!", gritaram as fãs no fim - tal como haviam feito no início e durante todo o concerto.
Fila em redor do Pavilhão Atlântico
Ansiosos, mas sem histerismos, era como estavam os cerca de cinco mil fãs portugueses e estrangeiros que aguardavam na tarde de ontem à porta do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, para assistir ao concerto da cantora norte-americana Lady Gaga. Cerca das 16h30, alguns milhares de pessoas faziam fila em redor do Pavilhão Atlântico, à espera que as portas do recinto abrissem, para garantir o melhor lugar e assistir à estreia de Lady Gaga em Portugal. Havia muita gente sentada no chão, em piqueniques improvisados, a ultimar pinturas na cara, a ensaiar canções prováveis do concerto, a aprumar a melhor indumentária, mas num ambiente descontraído e sem histerismos.
Nas filas de espera sobressaíam óculos escuros, cabeleiras loiras, bocas pintadas de negro, chapéus em forma de telefone, roupas justas, camisolas estampadas, correntes e véus, adereços que remetem para o universo visual e artístico da intérprete de Paparazzi. Diogo Correia e Carolina Silva viajaram de Sines e disseram à agência Lusa que este era "o concerto mais esperado nestes meses todos em que ela está na ribalta".
Lady Gaga: o poder da pop
O que é curioso é que para alguém que se declara contra a falta de espontaneidade, não tenha havido um momento neste espectáculo pensado ao pormenor marcado por essa mesma espontaneidade. Vá, talvez quando Gaga se aproximou dos fãs da frente e cantou um 'Parabéns a Você' à capela a um deles, numa referência óbvia a uma das várias divas que evoca em palco, Marilyn Monroe.
Para uma carreira tão curta, Gaga vai tendo tudo o que é preciso. Sabe entreter, sabe dançar, tem um discurso directo q.b., embora cheio de clichés, e lida melhor com a sua costela libidinosa em palco, do que fora dele. O problema é que quando dança, fica aquém de uma Britney Spears ou de uma Beyoncé. Quando choca, nunca o fará tão bem como o fez Madonna. E o que mostrou até agora musicalmente, deixa-a atrás de quase todas as suas colegas nisto da pop. Dizemos até agora, porque ouviu-se no Atlântico um tema do novo disco, "Born This Way", chamado 'You and I', com a cantora sentada ao piano, que faz lembrar muito mais as suas raízes rockeiras do Lower East Side de Nova Iorque do que o house cantado que a tornou popular.
Posto isto, há que dizer que nesta noite Gaga não desiludiu mas também não surpreendeu ninguém. Os temas de "The Fame" e "The Fame Monster" têm tanta aceitação popular como a sua figura. Com claro destaque para os singles, com 'Just Dance', 'Telephone' (introduzido como o «meu romance gay com Beyoncé Carter»), 'Alejandro' e 'Poker Face', à cabeça. Menção honrosa para 'Speechless', cantado ao piano com Gaga enrolada numa bandeira portuguesa, mas a fazer lembrar Elton John. 'Boys Boys Boys' ganha o prémio no que toca a evocações mais viradas para a plateia gay.
Entre mais de dez mudanças de figurino, onde saltou à vista a capa vermelha à Drácula e um chapéu que fazia lembrar um abajur de um clube nocturno, Gaga cumpre quanto tem de puxar pela amplitude vocal. Não faltam adereços de grande porte como um carro que afinal é um orgão, uma carruagem de metro e um monstro mecânico. Há imagens gore que fazem lembrar Marilyn Manson e um espírito de estranheza que nos leva a 'Thriller', de Michael Jackson. De resto o Rei da Pop era o que se ouvia antes do concerto começar.
Do outro lado, os portugueses respondiam com gritos, uma energia imparável e até algumas lágrimas. No final, num encore que se anunciava, 'Bad Romance' põe o Atlântico aos pés de Gaga. É este o poder da pop.
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