O encenador Carlos Avilez confirmou a morte do actor e amigo. Disse ter falado há poucos dias tempo com o irmão de António Feio, que sabia que estava mal, mas que não esperava um golpe destes.
"Perdemos um grande actor, um grande homem. Uma pessoa insubstituível. Uma pessoa com muito humor e uma grande paixão pelo teatro", disse o encenador Carlos Avilez, em declarações à SIC Notícias.
Bruno Nogueira: "Um ser humano extraordinário"
Bruno Nogueira, humorista que trabalhou e conviveu com António Feio, recorda o bom humor de António Feio, no palco e na vida. "Era um ser humano extraordinário. Era raro ver o António chateado ou de mau humor", disse.
Em declarações à SIC Notícias, Bruno Nogueira recordou a capacidade de António Feio de "relativizar" as situações más. Foi assim, e com bom humor, que reagiu e combateu a doença, nunca se escudando a dar a cara e a contar as dores da luta contra o cancro.
Herman José: "Não faz sentido"
Herman José recordou, na morte de António Feio, a dor de um amigo comum. "Não consigo imaginar a dor de José Pedro Gomes neste momento, porque eles funcionavam os dois como um só organismo", disse o humorista.
Em declarações à RTPN, Herman José interrogou-se, como todos nos questionamos quando alguém próximo morre, sobre a lógica da vida. "Não faz sentido que tão boa pessoa morra assim", desabafou o actor e humorista.
Nuno Artur Silva: Morreu "cedo demais"
Nuno Artur Silva, autor de vários textos interpretados por António Feio, diz que a morte do actor aconteceu "cedo demais" e lembrou o "grande sentido de humor" e a "grande simplicidade" do intérprete.
"Era um tipo muito activo e pôs tantas gente a fazer coisas tão boas, que tenho imensa pena", confessou.
Para Nuno Artur Silva, é "injusto" que "lhe tenha sido tirada a possibilidade de fazer o que ele fazia tão bem, que era, sobretudo, dirigir pessoas, encenar peças e entrar nelas e fazer isto tudo com um grande sentido de humor com grande simplicidade, sem complicar".
Recordou ainda que a sua estreia em televisão aconteceu com o "melhor trio do Mundo", os atores António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme, num programa de Joaquim Letria, em finais dos anos 1990.
José Jorge Letria: Uma "perda pesada"
Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores a morte de António Feio é "perda pesada" de quem se revelou com "um talento especialíssimo para a comédia".
"O teatro português perde um dos seus atores mais versáteis e também um encenador muito experiente e inspirado e com um talento especialíssimo para a comédia. Uma comédia moderna, ágil, de costumes, muito virada também para o 'nonsense' [disparate], para o jogo com a linguagem do quotidiano, coisa que aconteceu muito com a 'Conversa da Treta' [com que António Feio fez dupla com o actor e amigo José Pedro Gomes]", afirmou José Jorge Letria.
Em declarações à agência Lusa, o também escritor elogiou a "imagem muito popular" que António Feio tinha entre os jovens. "Ajudou muitos jovens a irem ao teatro, isso torna esta perda ainda mais pesada", frisou.
Carlos Avillez: "Sinto um grande desgosto”
O encenador Carlos Avillez mostrou-se desgostoso com a morte de António Feio, cujo trabalho e "exemplo de coragem" pretende "divulgar muito" entre alunos e profissionais do teatro.
"Sinto um grande desgosto, saudade e ternura", disse, lembrando que o convidou para entrar na peça "O Mar", de Miguel Torga, no Teatro Experimental de Cascais (TEC), a 6 de Maio de 1966, tinha apenas 11 anos.
"Era um miúdo muito simpático, com um grande sorriso, que manteve sempre", recordou Carlos Avillez em declarações à Agência Lusa, acrescentando que logo nessa peça "obteve grandes ovações do público".
Ana Bola: “Infelizmente foi o bicho que o matou”
A actriz Ana Bola sublinhou que o seu colega António Feio deixa "um legado considerável que ficará para sempre na História do Humor" em Portugal.
"Ele era um tipo sem mácula, incapaz de criar uma situação mais complicada aos outros. Era um excelente colega, sem necessidade de protagonismo porque ele era um protagonista natural", sublinhou, recordando que trabalhou com António Feio primeiro no teatro e depois na televisão, em séries de humor como "Os Bonecos da Bola".
"Apesar da tristeza, temos que tentar dar a volta à situação e pensar que tivemos o privilégio de o conhecer", salientou a actriz.
"Todos nós quisemos acreditar que ele iria mesmo 'matar o bicho', como ele dizia. Infelizmente foi o bicho que o matou, e prematuramente. Ele tinha ainda muito para fazer", concluiu.
"Uma personalidade muito vincada"
A notícia da morte de António Feio foi recebida com consternação em pleno festival de Paredes de Coura. Álvaro Covões, responsável pela "Everything Is New", afirma que "o país ficou mais pobre" com a morte do actor.
António Feio foi uma pessoa com "uma personalidade muito vincada e que acreditava muito na sua profissão", disse, ao JN, o promotor musical. "Isto dói. Hoje é um dia muito triste", concluiu.
António Feio...
Biografia...
António Feio nasceu em Lourenço Marques a 6 de Dezembro de 1954. Aos sete anos vem viver para Lisboa e a família instala-se em Carcavelos. Passa pela Escola da Câmara de Carcavelos, Liceu de Nova Oeiras, Liceu de Oeiras e inaugura o Liceu de S. João.
Ainda quando estava no Liceu de Nova Oeiras, a mãe, Ester, começa a ensaiar uma peça (A Casa de Bernarda de Alba, de Garcia Lorca) no Teatro Experimental de Cascais. Vai muitas vezes com a mãe assistir aos ensaios e surge o Convite de Carlos Avilez para fazer a peça O MAR de Miguel Torga, peça que estreia a 6 Maio de 1966.
A partir daí começa a trabalhar na televisão, faz um folhetim chamado GENTE NOVA, uma espécie de novela da altura, variadíssimas peças de teatro na televisão, folhetins na rádio, publicidade e filmes.
Em 1969, regressa a Lourenço Marques. Continua os estudos, no Liceu Salazar, e faz uma digressão por Moçambique com a companhia Laura Alves, com a peça COMPRADOR DE HORAS. Durante alguns anos colabora com alguns grupos de teatro locais. Começa a trabalhar como desenhador num atelier de arquitectura. Do antigo 7º ano, ficam-lhe duas cadeiras por fazer: Matemática e Física.
Em 1974, faz a digressão do Teatro Experimental de Cascais por Moçambique e regressa com a companhia a Lisboa.
Casa com Lurdes Feio (jornalista) de quem tem duas filhas: Barbara e Catarina.
Mantêm-se no Teatro Experimental de Cascais durante alguns anos e sai para formar com Fernando Gomes o Teatro Aquarius. A experiência não corre bem e vai para a Cooperativa de Comediantes Rafael de Oliveira. Segue-se o Teatro Popular-Companhia Nacional I, no Teatro S. Luiz, O Teatro Adoque, o Teatro ABC, a Casa da Comédia, o Centro de Arte Moderna, o Teatro Aberto, o Teatro Variedades, o Teatro Nacional D. Maria II e muitos outros grupos e projectos pontuais.
Faz muita televisão, algum cinema, traduções e muitas dobragens.
Começa a encenar e o primeiro espectáculo é PEQUENO REBANHO NÃO DESESPERES, na Casa da Comédia. Segue-se VINCENT, numa galeria de arte nas Amoreiras e O VERDADEIRO OESTE, em Benfica. Faz, como actor, INOX-TAKE 5, com José Pedro Gomes e é o início de um trabalho em conjunto e de uma "dupla" que dura até aos dias de hoje.
Vive, durante 18 anos, com Claudia Cadima de quem tem dois filhos: Sara e Filipe.
Começa a dar aulas no Centro Cultural de Benfica e forma com vários alunos alguns grupos: O Esquerda Baixa e o Pano de Ferro, e com eles faz alguns espectáculos.
Seguem-se muitas outras encenações sendo as mais importantes: A PARTILHA, O QUE DIZ MOLERO, PERDIDOS EM YONKERS, DUAS SEMANAS COM O PRESIDENTE, CONVERSA DA TRETA, O ALEIJADINHO DO CORVO, ARTE e BOM DIA, BENJAMIM, POPCORN, DEIXA-ME RIR, PORTUGAL UMA COMÉDIA MUSICAL, JANTAR DE IDIOTAS, O CHATO, SEXTA-
-FEIRA 13, 2 AMORES E ANNA E HANNA.
António Feio faleceu aos 55 anos.
Um adeus a António Feio: Actor de talento e coragem 30-07-2010 Terminou às 23h25 de ontem, precocemente, uma das mais brilhantes carreiras do teatro português. Desaparece, com 55 anos, um homem que o público se habituou a respeitar. António Feio, internado de urgência na quarta-feira no Hospital da Luz - onde teve ontem duas paragens cardiorespiratórias durante a manhã - acabou por sucumbir à doença que o afligia há ano e meio. Para a história ficará a memória de um artista de talento que fez rir milhões, sobretudo nas últimas duas décadas, em que, ao lado de José Pedro Gomes, criou um estilo próprio e inimitável de fazer comédia. Ironicamente, começou por fazer chorar... António Feio tinha 27 anos quando o seu rosto se tornou familiar ao grande público, ao interpretar, na telenovela da RTP ‘Origens', ‘Nando', um toxicodependente cujo drama comoveu o País. Já tinha anos de trabalho em teatro. Filho de uma actriz, havia-se estreado nos palcos com apenas 11 anos, desafiado por Carlos Avilez a interpretar ‘O Mar', de Miguel Torga. Depois de uma breve passagem por um atelier de arquitectura, como desenhador o apelo das tábuas foi mais forte, e provou ser uma decisão acertada. A viragem na carreira aconteceria depois do encontro com José Pedro Gomes, no início da década de 90. A dupla de actores - cuja química se tornou evidente desde a primeira colaboração, em ‘Inox - Take 5' - assinou vários espectáculos que foram num crescendo de sucesso: ‘Conversa da Treta', ‘O Que Diz Molero', ‘Arte', ‘Pop Corn', ‘Jantar de Idiotas', ‘O Chato', ‘2 Amores'. O anúncio da doença veio interromper um percurso ascendente nos palcos, mas nem os tratamentos impediram António Feio de continuar a trabalhar. Apesar dos médicos lhe terem dado três meses de vida, recusou-se a baixar os braços e encontrou tempo - e forças - para terminar a ‘A Verdadeira Treta', como actor, e de assinar duas encenações, uma das quais ‘Vai-se Andando', com José Pedro Gomes. A sua página da rede social Facebook foi o elo de ligação com os fãs. A sua última mensagem foi: 'Esqueçam a minha doença! Parem para pensar!'. O velório realiza-se hoje à tarde no Palácio Galveias, em Lisboa. PERFIL António Feio nasceu a 6 de Dezembro de 1954 em Lourenço Marques. Estreou-se no teatro em 1966 e colaborou com estruturas como a companhia Laura Alves, Cooperativa de Comediantes Rafael de Oliveira, Teatro Popular, Teatro Aberto ou Teatro Nacional D. Maria II. Fez televisão, cinema e dobragens, encenou inúmeros espectáculos. Formou gerações de jovens como professor de teatro (no Centro Cultural de Benfica). Foi casado duas vezes e teve quatro filhos. HONRADO NO DIA EM QUE SE TORNOU COMENDADOR 'Só espero ser um digno representante deste tipo de honra.' Foi assim que António Feio reagiu à condecoração que o Presidente da República, Cavaco Silva, lhe atribuiu no último Dia Mundial do Teatro, a 27 de Março. Desde essa data, o actor passou a comendador da Ordem Infante D. Henrique e compareceu à cerimónia, no Museu dos Coches, visivelmente emocionado, até pela fragilidade visível, reflexo já do seu estado de saúde. 'Queremos um País mais vivo, teatralmente falando, e com mais cultura. O teatro para nós é e será sempre uma festa', disse o actor, que falou na altura em nome de todos os homenageados. Acompanhado pela família, assumiu andar mais emotivo. DOENÇA APROXIMOU FEIO DA FAMÍLIA António Feio deixa quatro filhos: Bárbara e Catarina (do casamento com Lurdes Feio), e Sara e Filipe, da relação de 18 anos com Cláudia Cadima. Com uma carreira exigente, nem sempre foi o pai que quis, mas no último ano a doença acabou por aproximar a família - sobretudo depois da morte da irmã, Helena Luísa, falecida em Setembro de 2009, com a mesma doença de António Feio. 'Nós sempre fomos uma família muito próxima, mas claro que nos uniu mais', admitiu, recentemente, a filha Catarina. Conscientes da luta que o pai estava a travar, as filhas mais velhas chegaram a ir viver com ele, em alturas diferentes, e, tal como o pai, sempre mantiveram uma atitude positiva. Aliás, segundo Cláudia Cadima, era António quem lhes dava maior força. Ontem, voltam a estar unidos, de forma diferente. O nascimento do neto Dinis, actualmente com dois meses, foi um momento de felicidade para o actor, que deixa um desejo por concretizar: levar os filhos a Moçambique, a terra onde nasceu. Ainda assim, manteve, até ao fim, coragem para lutar contra o ‘bicho' que o consumia, mesmo quando admitiu:. 'Não tenho medo da morte'. REACÇÕES 'VOU TER MUITAS SAUDADES DELE': Maria Rueff, Actriz 'Estou profundamente sentida com a morte do António. Vou ficar sempre com a memória de um extraordinário encenador, de um actor de comédia excepcional, que lutou sempre até ao fim contra a doença que o levou. Vou ter muitas saudades dele, mas sei que ele estará a sorrir onde quer que esteja' 'EXEMPLO DE CORAGEM PELA FORMA C0MO LUTOU': Nicolau Breyner, Actor 'Vou recordar o António Feio como um amigo de longa data. Tínhamos ainda uma grande diferença de idades. Era um actor muito inteligente, com um sentido de humor excepcional. O António deu também um exemplo de coragem pela forma como lutou com toda a força esta doença. Fez uma parelha fantástica comJosé Pedro Gomes.' 'PERDEU-SE UM HOMEM MUITO IMPORTANTE': Manolo Bello, Produtor 'Perdeu-se um grande homem e um grande actor. Era muito importante para o País. Amigo de toda a gente, estava sempre disponível. Lembro-me do António, há mais de 20 anos, no programa do Joaquim Letria, com o Nuno Artur Silva. Andava sempre preocupado com os textos, por causa da censura... Encarou este último momento da sua vida com muita dignidade.' AMIGO CHORA MORTE DE FEIO Aldo Lima, grande amigo de António Feio, acompanhou o sofrimento do actor ao longo das últimas semanas. Ontem, na hora do adeus, o comediante estava inconsolável, não conseguia controlar as lágrimas e, por isso, não conseguiu sequer dizer uma só palavra. |
Óbito
Longos aplausos na despedida a António Feio
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, e o fadista Carlos do Carmo foram algumas das personalidades que hoje se juntaram, num longo aplauso, à despedida do actor António Feio, no Palácio das Galveias, em Lisboa
Aos jornalistas Gabriela Canavilhas elogiou o trabalho de António Feio de aproximação do teatro aos espectadores.
Carlos do Carmo sublinhou «um criador inquieto, um português livre, que percebeu muito cedo o país real».
Entre as várias dezenas de pessoas que hoje preencheram o átrio do Palácio das Galveias, cuja bandeira estava a meia haste, marcaram presença os atores Nuno Lopes, Maria Rueff, Bruno Nogueira, Adriano Luz, Márcia Breia e Maria Emília correia, o encenador Carlos Avillez e o realizador João Canijo.
O calor que se fez sentir não demoveu também os muitos anónimos que quiseram prestar uma última homenagem ao actor que morreu na quinta feira, aos 55 anos, vítima de cancro do pâncreas.
Desde sexta feira, no livro de condolências foram deixadas dezenas de mensagens de pesar pela morte de António Feio, sublinhando sobretudo o sentido de humor do actor e as saudades das gargalhadas que vai deixar.
«Toni és o maior, estás nos nossos corações!», gritou uma admiradora de António Feio no momento em que o caixão foi colocado no carro funerário.
No cemitério dos Olivais, onde o corpo do actor foi cremado numa cerimónia privada reservada à família, concentraram-se bastantes mais pessoas, sobretudo anónimos que esperaram horas para ver chegar o carro funerário.
Nesse tempo de espera faziam-se comentários sobre doença que António Feio sofreu, sobre a profissão «desgastante», sobre o calor que se sentia na espera do funeral, sobre as dezenas de coroas de flores que encheram dois carros, sobre os atores e actrizes das telenovelas que marcaram presença.
A eles juntaram-se dezenas de jornalistas, repórteres de imagem e repórteres fotográficos para captar os últimos momentos da cerimónia.
CONTRALUZ - EM EXIBIÇÃO - Trailer 1 com mensagem de António Feio. Partilhem a mensagem!
1954 -2010
DESCANSA EM PAZ ANTÓNIO FEIO...
ANTÓNIO FEIO - Descansa em paz [ Homenagem ]